sábado, 16 de outubro de 2010

Pilha Verde - A pilha do futuro...

Pilha verde da UFMG vai gerar energia limpa


Se, em vez de uma reportagem, esta fosse uma história em quadrinhos, a personagem principal seria uma superpilha, incansável defensora do meio ambiente, em um mundo de pilhas poluentes e desgastadas. Sozinha, ela pode valer pouco, mas, quando se liga a heróis da mesma espécie, os prodígios são dignos de atenção. A superpilha de combustível desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, usa componentes cerâmicos e gasta hidrogênio para prometer mais eficiência que as similares, produzidas, por enquanto, apenas em laboratórios. As pilhas de combustível são fonte de energia mais limpa e ecológica, por isso estão na ordem do dia de pesquisadores do mundo inteiro. Acredita-se que, em futuro próximo, estejam disponíveis para uso em residências e automóveis.

Diferentemente das convencionais, as pilhas de combustível se desgastam menos com o tempo, porque a substância usada para gerar a energia fica à parte e pode ser constantemente renovada. "É como se fosse um fogão. Se sempre tiver gás, você consegue fazer comida durante muito tempo com o mesmo equipamento", compara a professora Rosana Zacarias Domingues, do Laboratório de Materiais e Pilhas Combustíveis do Departamento de Química da UFMG. Com isso, a tecnologia ganha pontos no quesito ecologia, reduzindo o descarte de pilhas e a (in) consequente poluição.

Embora os recursos para estudos no setor, no Brasil, de acordo com a professora, sejam bem menores que os de outros países ao redor do mundo, os avanços do protótipo dos cientistas mineiros chamam a atenção. Como usa material cerâmico e altas temperaturas no processo, a pilha reaproveita o calor, que pode chegar a 700 graus, para gerar ainda mais energia. Na prática, enquanto um carro a gasolina tem eficiência de 20%, as novas pilhas teriam 99,99%. No carro, o calor se perde. Os estudos foram desenvolvidos em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), com investimentos de R$ 2 milhões.
A superpilha criada na UFMG usa o hidrogênio como combustível. "Nesse caso, ela fica 100% ecológica, porque o hidrogênio pode ser extraído de biocombustíveis como o etanol, que é encarado como a grande promessa brasileira", ressalta a pesquisadora. Outra vantagem verde da pilha criada a partir de componentes cerâmicos está justamente nessa transformação do etanol em hidrogênio. A superpilha trabalha em altas temperaturas e, por isso, dispensa o catalisador normalmente usado nesse processo. O objetivo do grupo da UFMG é desenvolver um protótipo comercial da pilha, de 500 watts, para pequenas aplicações domésticas e comerciais.
Segundo Rosana, com a superposição de várias pilhas, é possível aumentar essa potência e levá-la a contextos mais abrangentes. Como a confiabilidade da energia é muito grande, se torna ideal para usos em que a qualidade é fundamental, como hospitais. "Pode ser associada à maneira tradicional de produzir energia, e agir como backup, mas também pode ir além e sustentar por si só a demanda", acredita a professora. Passada a fase em que os cientistas ainda debatiam a viabilidade das pilhas combustíveis, os estudos agora se concentram na durabilidade e eficiência dos protótipos. As principais limitações, até o momento, são os altos custos, de acordo com a professora. "O valor pode ser de 10 a 100 vezes maior que o das energias convencionais, porque a tecnologia ainda é muito nova", observa.
A saída do laboratório para a produção em escala industrial pode ser um dos fatores que impulsionem o barateamento. Ainda assim, o preço deve continuar alto, o que, acredita Rosana Zacarias, será justificado por vantagens como a confiabilidade incomparável: "Diferentemente do que temos hoje, a geração seria ininterrupta, independentemente de raios e tempestades. Com geradores locais, cada consumidor (hospitais, condomínios ou até cidades) poderá ter seu sistema de pilha combustível. Em alguns setores, a busca pela qualidade pode valer o preço alto: imagine o prejuízo de uma queda de energia na central de processamento de dados de um banco, por exemplo".

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